quarta-feira, dezembro 31, 2008

Você viu? Hoje é 31 de dezembro de 2008!

Em 2008 este blog completou três anos de existência.

Feliz 2009, e 2010, e 2011, ...

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segunda-feira, dezembro 29, 2008

Fernando Gonsales e o medo da morte como metáfora

Os Donos do Poder, 50 anos

Clássico de Faoro completa 50 anos com nova edição

"Os Donos do Poder", obra que analisa o caráter patrimonialista do Estado brasileiro, será tema de debate, hoje à noite, na FGV

Na época em que escreveu uma das mais importantes interpretações do país, Raymundo Faoro era jovem e obscuro advogado no RS


RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Do esforço e da erudição individual de um obscuro advogado gaúcho, uma espécie de "self-made man" da análise sociológica, nasceu, há 50 anos, uma das mais importantes interpretações sobre o Brasil.
Leitura que dizia, justamente, que o Estado patrimonialista sufocava aventuras ou empreendimentos independentes, impedindo o surgimento de ideário e práticas modernas, liberais no país.
O hoje clássico "Os Donos do Poder - Formação do Patronato Político Brasileiro", de Raymundo Faoro (1925-2003), escrito à mão em 1954, só veio a ser editado em 1958, pela então gaúcha editora Globo.
Ganhará agora uma nova edição, que chega às livrarias nesta semana, com comentário crítico do professor de ciência política da USP Gabriel Cohn e reprodução de manuscritos. Conta Cohn que "o livro talvez não tivesse vencido a muralha da indiferença" se não ocorresse a alguém na editora -"consta que Erico Veríssimo"- sintetizar o argumento com um título novo, a partir do próprio texto de Faoro.
E quem são esses celebrizados "donos do poder"? São representantes de um Estado que confunde coisa pública e privada, um "estamento" burocrático que não tira seu poder da representação de grupos ou interesses econômicos e sociais independentes da máquina estatal, mas, ao contrário, que constitui riquezas privadas e fortalece grupos a partir das posições que ocupam no Estado.

Herança e mudança
Para o autor gaúcho, que viria a ser figura de frente na luta pela redemocratização do país durante a ditadura militar (1964-1985), o Brasil herdou de Portugal uma organização política pré-moderna, em que o Estado capitaneia os grandes empreendimentos comerciais, sufocando a existência de uma burguesia autônoma, limitando e canalizando todos os impulsos da sociedade.
É verdade, no entanto, que o país mudou bastante desde a publicação da primeira edição do livro. A democracia ganhou força e representatividade. Como fica o patrimonialismo hoje no Brasil? Para o advogado e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., o argumento permanece atual. "O poder ainda emana daquele que tem a caneta", ele diz. "Segundo Faoro, o poder não estava no dinheiro, no empresariado, no poder social, mas na capacidade de nomear pessoas, alocar conhecidos e distribuir benesses. Isso continua valendo."
Já Gabriel Cohn defende que a conclusão principal do livro de Faoro continua válida apenas se considerarmos que essa forma geral do Estado patrimonialista é extremamente "plástica", adaptando-se sempre a novas realidades. A leitura é possível, mas o advogado sugere rigidez maior em sua tese, como alerta o próprio Cohn.
"O que não dá para sustentar é a idéia de uma asfixia total sobre a sociedade. Você tem uma sociedade tolhida na sua capacidade de constituir seus próprios dinamismos, mas a idéia de uma sociedade asfixiada [pelo Estado] não se mantém."
Cohn e Reale Jr. participam hoje à noite, na Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (r. Rocha, 233), de um debate sobre Faoro e "Os Donos do Poder". Também participarão da mesa o advogado e cientista político Oscar Vilhena e o historiador Carlos Guilherme Mota. O encontro acontece às 19h, e a entrada é gratuita.

OS DONOS DO PODER
Autor: Raymundo Faoro
Editora: Globo
Quanto: R$ 94 (936 págs.)

Texto da Folha de São Paulo, de 27 de novembro de 2008.

Interpretação impressiona por fatalismo

DA REPORTAGEM LOCAL

A obra de Raymundo Faoro sobre a formação do Estado e da classe política brasileira impressiona pelo tom fatalista, no que se distingue de obras clássicas sobre outras "formações" do Brasil.
Se "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, aponta para a possibilidade de transformação da sociedade brasileira a partir da chegada de novos imigrantes, segundo a análise do crítico Antonio Candido, se Gilberto Freyre mapeia em suas obras a decadência do patriarcado rural, e se o próprio Candido, em sua "Formação da Literatura Brasileira", vê em Machado de Assis um autor que supera os impasses criativos anteriores, Faoro vê apenas manutenção e repetição de uma "monstruosidade social" na forma do Estado brasileiro.
O título do capítulo conclusivo dá bem uma medida desse argumento: "A Viagem Redonda". O tom é duro. Se o Estado é o grande provedor, o Brasil se torna, de certa forma, uma nação de agregados. Nessa mesma conclusão, escreve Faoro que a nação tende, inevitavelmente, ao "parasitismo".
Em sua apresentação, o cientista político Gabriel Cohn afirma que "não há nesse livro nada que se assemelhe ao relato da gradativa constituição de uma configuração nacional com feição e dinamismo próprios". (RC)

Também da Folha de São Paulo, de 27 de novembro de 2008.

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Lévi-Straus a dois (?)

Lévi-Strauss a dois

RIO DE JANEIRO - Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês, está fazendo 100 anos. Em 1935, ele era um jovem marxista com uma visão mecânica da vida, como tantos. Mas veio para o Brasil, embrenhou-se no mato com os nossos bororos e nambiquaras, comeu do cru e do cozido, e isso abalou suas certezas. Em 1955, a experiência rendeu-lhe um livro, "Tristes Trópicos".
Nos anos 50, Lévi-Strauss já acusava o homem de ser o vilão da ecologia, quando os dicionários ainda não tinham chegado a um acordo nem sobre o significado da palavra. Contrariando o espírito da época, também nunca aceitou a idéia de que, com a alfabetização em massa, o progresso da humanidade seria fatal -quem éramos nós para sair alfabetizando populações que viviam tão bem sem o alfabeto?
Por defender a necessidade de preservar as identidades étnicas e culturais, combateu a idéia da globalização ainda no berço. Para ele, a globalização conduziria à uniformização, à anulação das diferenças -e o fim das diferenças levaria à indiferença, que é uma das piores pragas que poderiam nos afligir. Pois é o que está acontecendo, e bem que ele avisou.
Minha geração tem vários motivos para ser grata a Lévi-Strauss. Em 1968, um pretexto infalível para um rapaz e uma moça se encontrarem era ler e discutir o último livro do autor da moda. Eram grandes noites, que, de fato, começavam pela leitura de um capítulo do livro, geralmente o primeiro. Mas nunca se chegava ao segundo.
Naquele ano, o campeão disparado de tais leituras era "Eros e Civilização", de Herbert Marcuse. Mas, então, "Tristes Trópicos" saiu no Brasil, e Lévi-Strauss tomou-lhe o lugar. Eu tinha 20 anos, morava no Solar da Fossa, em Botafogo, e era incrível como não se passava uma noite sem uma discussão a dois sobre Lévi-Strauss.

Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo, de 26 de novembro de 2008.

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Machado: Antes que o ano acabe

Antes que o ano acabe

RIO DE JANEIRO - O ano dedicado ao centenário da morte de Machado de Assis está chegando ao fim e até agora pouco ou nada me manifestei a respeito. Colegas da ABL, embora cordialmente, criticam-me pelo fato de não ter engrossado a onda que se formou para louvar o autor de "Quincas Borba", que é o meu romance preferido, não apenas na obra do mestre mas em toda a literatura nacional. Gosto não se discute -diz o vulgo.
Tirante um longo texto que escrevi para a edição comemorativa do Instituto Moreira Salles ("Cadernos da Literatura Brasileira", nº 23/ 24), nada fiz para louvar o mestre. Pelo contrário, dei algumas entrevistas declarando que Lima Barreto, como romancista, era superior a Machado, embora Machado seja, de longe, o nosso maior escritor.
Na maioria das matérias sobre "Dom Casmurro", que ficou sendo a principal referência machadiana, cansei de ouvir teorias sobre o adultério de Capitu e a repetição infindável de seus "olhos oblíquos e dissimulados".
O curioso é que a descrição do olhar da menina Capitu não é de Bentinho, seu namorado e mais tarde marido. É do agregado José Dias, um paspalhão esboçado pelo próprio Bentinho, que seria incapaz de observação tão sutil. É evidente que, depois de atribuir ao personagem mais ridículo da história a mais famosa definição de um olhar na literatura universal, o próprio Bentinho dela se apossa, acrescentando que os olhos de Capitu eram de ressaca.
Li não sei onde que o primeiro título que Machado daria ao romance seria "A Ressaca". No primeiro capítulo, Bentinho promete que durante a narrativa, se arranjasse título melhor, ele desistiria do "Dom Casmurro". Terminou mantendo-o, preferindo definir o personagem que conduz a ação, e não o pormenor que criou o drama principal.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 27 de novembro de 2008.

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quarta-feira, dezembro 24, 2008

Neste Ano da Graça de 2008, também desejamos Feliz Natal



Utilizando uma imagem dos magos do oriente que vieram adorar Jesus recém-nascido, conforme narra o Evangelho de Mateus. Posteriormente a tradição transformou os sábios em reis, e inclusive atribuiu nomes a eles (Gaspar, Belchior e Baltazar). Trouxeram ouro, incenso e mirra para oferecer a Jesus. Se a algo no Evangelho tem a ver com o frenesi de compras e trocas de presentes de final de ano, certamente são estas dádivas que Jesus recebeu logo após seu nascimento. Há países onde ainda se celebra o “Dia de Reis”, 6 de janeiro.

Eu queria apenas desejar Feliz Natal, e gerei algumas linhas de palavras. Que verborragia!

Feliz Natal!

A imagem é proveniente do Priper3, via Google.


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Próxima parada, avenida Paulista

Próxima parada, avenida Paulista

A MENOS QUE a recessão seja ainda pior do que dizem, há coisas em São Paulo que nunca param de crescer e que afastam qualquer idéia de que possam diminuir um dia.
A decoração natalina é uma delas: segue a lei do acúmulo, da superposição, do entupimento. Não há como esperar, de um ano para outro, versões mais econômicas, mais "clean".
O vazio não é tolerado; sempre se encontra espaço, numa árvore ou numa fachada de loja, para enfiar um enfeite a mais onde já não cabia mais nenhum.
Como há ainda mais carros do que lampadazinhas natalinas na cidade (não sei se já fizeram o cálculo comparativo), o congestionamento noturno tem sido intenso em lugares como a avenida Paulista e as imediações do Ibirapuera.
Pelo parque Ibirapuera só passei de dia. O cone gigantesco que instalaram ali não evoca em mim antigas imagens de pinheiros de Natal: parece mais algum equipamento de emergência do Detran para evitar o engarrafamento de trenós.
Na avenida Paulista, o prêmio vai para aquela esquina do Banco de Boston. Nem sei se o banco já mudou de nome.
O fato é que, de ano para ano, amontoam-se ao redor daquele palacetezinho branco mais e mais reis magos, embalagens de presente, bolotas, pirulitos, camelos, neves, santos e trombetas, numa congestão comemorativa capaz de fazer de qualquer igreja barroca uma aula de despojamento e sensatez.
Pouco importa; nada disso foi feito para agradar a críticos e arquitetos, mas sim às crianças que levamos para passear por lá.
Fiz a experiência num sábado e aprendi bastante sobre a cidade em que vivo. Saí do carro e, com dois meninos pequenos ao meu lado, passei uma hora e pouco na condição de pedestre na Paulista.
É um dos pontos de São Paulo em que ser pedestre não inspira medo.
Nada mais incomum por aqui do que a sensação, corriqueira em qualquer cidade do mundo, de que a rua pertence a quem anda nela. Pelas calçadas largas da Paulista, a cidade entretanto se abre aos seus habitantes, como se fosse um formidável e grotesco presente.
Lembro-me de ter recebido, quando criança, alguns presentes assim. Certo caminhão de madeira, grande demais para brincar de carrinho, pequeno demais para que uma criança se instalasse em cima dele. Uns tantos pacotões de gesso, argila e alvaiade destinados a transformar-me em pequeno escultor.
Apareceu até (doloroso confessar) um conjunto de carimbos e tipos móveis de borracha, com o qual se esperava que eu compusesse, por conta própria, meu pequeno jornal.
Quem sabe ainda reencontro, entre os guardados, esse brinquedo.
Coisas impossíveis, coisas inadministráveis, coisas maiores do que nós: lá estavam os bonecos, pacotes, renas e prédios da Paulista montados numa calçada acolhedora, por onde pais, crianças, e essas crianças de outro tipo, os turistas, podiam aparentemente andar sem medo.
E conversar também. Camelôs, vendedores de milho verde e jornaleiros não são pessoas com quem temos tempo ou disposição para trocar idéias. Na companhia de crianças, tudo muda. Meus filhos (e eu também) maravilharam-se com a quantidade de línguas e sotaques que se cruzavam pela rua.
Uma mulher, vendendo água e refrigerante, falava árabe e francês.
Veio do Líbano, tivera uma banca de tapioca, odiosamente confiscada pelas autoridades. Tratava de reconstruir a vida com sua geladeirinha de isopor. Belo pacote, sem dúvida, ao pé de uma imensa instalação natalina organizada pelo banco tal e tal.
Encontrei no passeio um brinco prateado, oculto num canteiro sujo.
Como logo ali ao lado um artesão expunha jóias e badulaques para vender, estimulei meu filho maior a perguntar-lhe se a peça não era sua. O artesão respondeu em portunhol.
Outra conversa começou.
O homem não era espanhol, era chileno. Falava castelhano, mas sua família era catalã. Os espanhóis, garantiu, eram todos ladrões, exploradores, assassinos. Só os catalães prestavam.
Uma espécie de trenzinho de Papai Noel estava sendo construído na fachada de outro banco. Meus filhos quiseram entrar nele; não estava pronto ainda. Desconfio que não fique pronto nunca.
Voltamos para casa, sem trenzinho, de metrô. Meus filhos talvez não se lembrem de nada disso no futuro, mas eles avançaram algumas estações na viagem que fazem pelo mundo.

Texto de Marcelo Coelho, na Folha de São Paulo, de 24 de dezembro de 2008.

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O Presépio

O presépio

MENINO, LÁ EM MINAS , eu tinha inveja dos católicos. Eu era protestante sem saber o que fosse isso. Sabia que, pelo Natal, a gente armava árvores com flocos de algodão imitando neve que não sabíamos o que fosse. Já os católicos faziam presépios.
Os pinheiros eram bonitos, mas não me comoviam como o presépio: uma estrela no céu, uma cabaninha na terra coberta de sapé, Maria, José, os pastores, ovelhas, vacas, burros, misturados com reis e anjos numa mansa tranqüilidade, os campos iluminados com a glória de Deus, milhares de vaga-lumes acendendo e apagando suas luzes, tudo por causa de uma criancinha. A contemplação de uma criancinha amansa o universo. O Natal anuncia que o universo é o berço de uma criança.
Até os católicos mais humildes faziam um presépio. As despidas salas de visita se transformavam em lugares sagrados. As casas ficavam abertas para quem quisesse se juntar aos reis, pastores e bichos. E nós, meninos, pés descalços, peregrinávamos de casa em casa, para ver a mesma cena repetida e beijar a fita.
Nós fazíamos os nossos próprios presépios. Os preparativos começavam bem antes do Natal. Enchíamos latas vazias de goiabada com areia, e nelas semeávamos alpiste ou arroz. Logo os brotos verdes começavam a aparecer. O cenário do nascimento do Menino Jesus tinha de ser verdejante.
Sobre os brotos verdes espalhávamos bichinhos de celulóide. Naquele tempo ainda não havia plástico. Tigres, leões, bois, vacas, macacos, elefantes, girafas. Sem saber, estávamos representando o sonho do profeta que anunciava o dia em que os leões haveriam de comer capim junto com os bois e as crianças haveriam de brincar com as serpentes venenosas. A estrebaria, nós mesmos a fazíamos com bambus. E as figuras que faltavam, nós as completávamos artesanalmente com bonequinhos de argila.
Tinha também de haver um laguinho onde nadavam patos e cisnes, que se fazia com um pedaço de espelho quebrado. Não importava que os patos fossem maiores que os elefantes. No mundo mágico tudo é possível. Era uma cena "naif". Um presépio verdadeiro tem de ser infantil.
E as figuras mais desproporcionais nessa cena tranqüila éramos nós mesmos. Porque, se construímos o presépio, era porque nós mesmos gostaríamos de estar dentro da cena. (Não é possível estar dentro da árvore!).
Éramos adoradores do Menino, juntamente com os bichos, as estrelas, os reis e os pastores.
Será que essa estória aconteceu de verdade? Foi daquele jeito descrito pelas escrituras sagradas? As crianças sabem que isso é irrelevante. Elas ouvem a estória e a estória acontece de novo. Não querem explicações. Não querem interpretações. A beleza da estória lhes basta. O belo é verdadeiro. Os teólogos que fiquem longe do presépio. Suas interpretações complicam o mundo.
O presépio nos faz querer "voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiqüíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Estamos encantados. Adivinhamos que somos de um outro mundo." (Octávio Paz )
Seria tão bom se os pais contassem essa estória para os seus filhos!

Texto de Rubem Alves, na Folha de São Paulo, de 23 de dezembro de 2008.

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Versículo Bíblico de Natal - Natal de 2008

"E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados."

Mateus 1:21

Verso encontrado na Bíblia Online.

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José Simão e o Papai Noel

Natal 2008! Estudo sociológico do ser humano no Natal. O ser humano se divide em quatro estágios. 1) Você acredita em Papai Noel. 2) Você não acredita mais em Papai Noel. 3) Você é o Papai Noel, se fantasia e anima a festa da família. 4) Você PARECE o Papai Noel!

Trecho da coluna de José Simão, o Macaco Simão, na Folha de São Paulo, de 19 de dezembro de 2008. É possível que isso já tenha sido publicado aqui no passado...

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Lévi-Strauss e Papai Noel

"Papai Noel vem em socorro de adultos"

Ensaio de Lévi-Strauss sobre o Natal, agora lançado, é exemplo de seu método e antecipa desenvolvimentos atuais da antropologia

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cosac Naify acaba de publicar, oportunamente para as festas de fim de ano, um ensaio inédito em português do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss sobre o significado de Papai Noel e do Natal.
A empreitada pode parecer simpática, porém prosaica, à primeira vista. Trata-se, no entanto, de um lance de enorme pretensão de um dos maiores pensadores do século 20.
Publicado em 1952, "O Suplício do Papai Noel" procura aplicar os princípios metodológicos da antropologia estrutural, criada e testada na lida com outras sociedades, a uma prática moderna e ocidental.
Lévi-Strauss antecipava-se assim, em décadas, ao projeto de pensar as sociedades industrias a partir de suas relações e diferenças com as chamadas sociedades "primitivas" ou "tradicionais", projeto que tem sido levado à frente, mais recentemente, por figuras de ponta da disciplina, como o norte-americano Roy Wagner e a britânica Marilyn Strathern.
Papai Noel surge no início do ensaio, em notícia de jornal, com as barbas e o resto do corpo queimados. A Igreja Católica francesa, pouco depois do final da Segunda Guerra e incomodada com o crescimento em importância desta figura ao mesmo tempo pagã e norte-americana, andou promovendo umas cerimônias curiosas, em que ateava fogo ao barbudo, dentro de igrejas e diante de criancinhas órfãs.

Importância
A igreja, com sua experiência no assunto, não costuma errar ao atribuir valores significativos a manifestações sociais, diz o antropólogo francês. E o significado de Papai Noel e do Natal moderno são capitais, ele diz. Como compreendê-lo?
Primeira operação: nas festas natalinas, desde os tempos das comemorações pagãs em celebração do solstício de inverno e da "volta" gradual da vida após o auge da escuridão, as sociedades costumam perder, ao menos simbolicamente, a divisão tradicional que as caracteriza -em classes ou grupos sociais hierarquicamente diferenciados. Trata-se, afinal, de uma festa de "reunião e comunhão".
Lévi-Strauss faz aqui, explicitamente, uma aproximação entre o Natal e o Carnaval, no abandono temporário, ainda que simbólico e parcial, das distinções "verticais" de uma sociedade, o que pode em princípio causar alguma estranheza. É interessante, por isso mesmo, encontrar aproximação semelhante num artigo de 1940 escrito por Graciliano Ramos, recolhido no livro "Viventes das Alagoas" (Record).
"No interior, tudo é diferente", ele escreve. "Nem francês de barbas, nem árvore com frutos enrolados em papel de seda, poucas mesas fartas, ausência de piedade". Após chamar o Natal sertanejo de "festa profana", o escritor alagoano a descreve assim: "Uma grande feira, tem muito do carnaval e dos torneios artísticos".

Troca de distinções
Pois bem, em lugar da divisão socioeconômica e hierárquica, continua Lévi-Strauss, lança-se mão temporariamente de uma nova divisão simbólica: desta vez entre crianças, que receberão os presentes, e adultos, que trabalharão para a manutenção do segredo que cerca a não-existência de Papai Noel.
Cumpre ao velhinho, portanto, ao mesmo tempo separar (uns, adultos, conhecem a sua não-existência; outros, crianças, nele acreditam) e unir esses dois grupos (os presentes passarão de uns a outros por suas mãos).
Segunda operação: encontrar outras relações, diferentes da divisão original promovida por Papai Noel, que com ela se relacionarão, que darão sentido a essa divisão entre crianças e adultos. É isso, uma analogia, de certo modo a forma geral de qualquer significado, para Lévi-Strauss. Na troca de presentes, crianças e adultos estão em relação com o quê?
Com a morte e com a vida, para dizer de uma vez. Trata-se de uma questão desta magnitude, segundo o antropólogo. O trabalho do artigo será mostrar que as crianças podem justamente significar a morte (usando exemplos de outros costumes e festas, mas também apoiado na lógica de que ambos são figuras de um "outro", de uma alteridade em relação aos adultos, passando pela representação, mais fácil, de pequenos anjinhos), e que há um sentido em lhes dar presentes.
Colocando-as nesse "lugar simbólico", lugar que fica no além, garantimos, ainda que precariamente, nossa vaga do lado de cá, e reforçamos, digamos assim, nossa relação com a vida, esse valor constantemente ameaçado.
"Sem dúvida, há uma grande distância entre a prece aos mortos e a prece repleta de conjurações que, todos os anos e cada vez mais, dirigimos às crianças -encarnação tradicional dos mortos- para que, acreditando no Papai Noel, elas consintam em nos ajudar a acreditar na vida", escreve o antropólogo.
"A crença que inculcamos em nossos filhos de que os brinquedos vêm do além oferece um álibi ao movimento secreto que nos leva a ofertá-los ao além, sob o pretexto de dá-los às crianças. Dessa maneira, os presentes de Natal continuam a ser um verdadeiro sacrifício à doçura de viver, que consiste, em primeiro lugar, em não morrer."
Que lição se pode ainda extrair desse estranho conto de Natal? Lévi-Strauss nos apresenta, aqui e em toda a sua obra, uma dialética que não comporta síntese. O significado sempre une sem igualar, e distingue sem cindir. O encontro final entre termos, idéias e grupos relacionados -ou seja, o fim da diferença entre eles- representaria o fim da possibilidade de sentido ou, dito de forma mais dramática, a morte.
Gente que leu Lévi-Strauss a sério nos oferece hoje, tantos anos depois desse ensaio, as mais interessantes propostas interpretativas das sociedades industriais.
Leituras que conseguem evitar a pulsão de morte de certas dialéticas -de direita ou de esquerda- que buscam ou, pior, já encontraram, algum fim para a história.


O SUPLÍCIO DO PAPAI NOEL
Autor: Claude Lévi-Strauss
Tradução: Denise Bottmann
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 25 (56 págs.)
Avaliação: ótimo

Texto da Folha de São Paulo, de 22 de dezembro de 2008.

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sábado, dezembro 20, 2008

Fernando Gonsales, em 11/12/2008 - Joaninhas

Zoé e o demônio do meio-dia

Zoé e o demônio do meio-dia

DESDE PEQUENA, Zoé, 9 anos, adora filmes e histórias de terror. Seus pedidos espantam a moça da locadora de DVDs, que, provavelmente, duvida da sanidade mental dos pais.
De fato, Zoé assiste com prazer a filmes que, às vezes, deixam insones seu irmão mais velho, suas baby-sitters e mesmo sua mãe. Talvez Zoé seja cinéfila a ponto de assistir aos ditos filmes com o distanciamento de um crítico dos "Cahiers du Cinéma". Ela desmontaria os "truques" destinados a produzir espanto nos espectadores e, com isso, os filmes lhe proporcionariam uma experiência parecida com a de um bom exorcista: ela venceria o mal desvendando seus estratagemas.
Mas a paixão de Zoé pelas histórias de terror tem outra explicação possível, que me apareceu quando Zoé quis que sua festa de aniversário fosse o cenário de um filme.
Com a ajuda de um cineasta amigo da família, Zoé e seus convidados foram co-autores e protagonistas de um curta que, claro, é a história do aniversário de uma menina, durante o qual um monstro diabólico e sedento de sangue etc.
Graças ao filme (que, aliás, é bem legal) pensei o seguinte: talvez Zoé queira sobretudo convencer-se de que sempre, mesmo no dia ensolarado de seu aniversário, há zonas de sombra, por onde andam seres repugnantes e perigosos. Alguém perguntará: "Mas por que ela gostaria de pensar assim?"
Pois é, eu acho que essa idéia é, para qualquer um, uma fonte de alívio. Explico por quê.
O Salmo 90 (na numeração Clementina) expressa a esperança de que Deus nos guarde tanto das abominações "que circulam pelas trevas" quanto "do demônio do meio-dia". Sobre o tal demônio do meio-dia muito foi escrito e dito: diferente dos diabos que se escondem nos cantos escuros, o que será esse malefício que nos espreita justamente quando o sol está no zênite e o mundo nos aparece sem sombras?
Uma leitura moderna diz que o demônio do meio-dia não é um bicho do inferno, mas é um sofrimento insidioso, específico de uma época em que faltam cantos escuros.
Ele é nossa própria tristeza, a depressão e o tédio produzidos por um mundo com poucas sombras e poucos mistérios.
Em outras palavras, as luzes da razão e da ciência acabaram com aquele sentido que só uma transcendência (divina ou diabólica, benéfica ou maléfica, tanto faz) podia conferir à vida. Por excesso de luz, em suma, o mundo perdeu seus horrores, mas também seu encanto; com isso, é preciso que Deus nos proteja do demônio do meio-dia, ou seja, do tédio e da tristeza.
Ao inventar cantos escuros e ao povoá-los de "troços" inquietantes, Zoé está se protegendo contra o demônio do meio-dia -com toda razão, pois esse é provavelmente o mais pernicioso de todos. Muito melhor se deparar com Freddy Kruger do que não achar graça no mundo.
"Filosofia do Tédio", de Lars Svenden (Zahar), é uma brilhante meditação sobre a dificuldade moderna em nos interessarmos pela vida, uma vez que ela não é mais justificada pela palavra divina ou por nossa luta heróica contra os "troços" que circulam pelas trevas. Para Svenden, contra o tédio, ainda não inventamos nada melhor do que o remédio do Romantismo: uma mistura de anestesia (drogas lícitas e ilícitas) com transgressões que deveriam provar que estamos vivendo grandes aventuras e experiências "incríveis". Se for para escolher, prefiro os esforços de Zoé para repovoar o mundo de monstros e demônios.
Mas há uma terceira via. Li, nestes dias, "O Olho da Rua", de Eliane Brum (Globo). Brum, repórter especial da revista "Época", reúne dez grandes reportagens escritas entre 2000 e 2008. Fazia tempo que um livro não me tocava tanto. Que Brum fale das parteiras do Amapá, da guerra em Roraima, dos velhos da casa São Luiz para Velhice, ou mesmo que ela acompanhe o fim da vida de uma paciente terminal, seu texto é uma verdadeira alegria - pois ele nos lembra, simplesmente, que o mundo importa, que ele vale a pena. Como ela consegue?
O tédio moderno é uma forma de arrogância: a vida é chata porque nós seríamos maiores que sua suposta trivialidade insossa; tendemos a menosprezar o cenário onde nos toca viver, como se ele fosse demasiado banal para nossas façanhas. Pois bem, o segredo de Brum é o oposto disso, é uma extraordinária humildade diante do que existe.
Quando Zoé cansar de inventar monstros para dar sentido ao mundo e à vida, vou lhe sugerir o livro de Eliane Brum.

Texto de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo, de 11 de dezembro de 2008.

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Japão: velhinhos roubam para serem acolhidos na cadeia

Idosos roubam para voltar à cadeia no Japão

Philippe Mesmer
Em Tóquio


Era o fim do mês de agosto, no sufocante torpor do verão em Tóquio. Na estação ferroviária do bairro elegante de Shibuya, duas jovens foram atacadas a faca. A autora da agressão: uma mulher de 79 anos, sem residência e com 6.500 ienes (€ 53) como única riqueza. "Eu não tinha para onde ir", ela declarou a seu advogado. "Queria que a polícia cuidasse de mim." Abrigada há algumas semanas em um centro social para sem-tetos, ela não tinha família nem amigos.

Por mais trágico que pareça, o caso ilustra a importância do problema da criminalidade de pessoas idosas no Japão. Segundo a edição 2008 do "Livro Branco sobre a Criminalidade", lançado no início de novembro, o número de infrações ao código penal registrou em 2007 uma queda de 6,5%, para 2,7 milhões. Em redução pelo quinto ano consecutivo, ele volta ao seu nível do final dos anos 1990.

O recuo envolve o conjunto das faixas etárias da população, com exceção dos maiores de 65 anos: 48.605 deles foram detidos, 4% a mais que no ano anterior, um recorde desde que o ministério começou a compilar esses dados, em 1986. O número de idosos reconhecidos culpados de crimes de delitos se multiplicou por cinco em 20 anos. Ao mesmo tempo, essa população "apenas" duplicou, passando de 13,7 milhões para 27,5 milhões.

A progressão rápida e regular dessas estatísticas levou o Ministério da Justiça a lhe dedicar um estudo, confiado ao Instituto de Pesquisa e de Formação. "Os maiores de 65 anos são presos tanto por furtos quanto por agressões ou homicídios", constatou Toru Suzuki, que dirigiu o estudo. Os pesquisadores interrogaram 368 pessoas condenadas. "A principal causa dessa criminalidade é a falta de recursos", explica Suzuki. "Eu queria economizar meu dinheiro", "Eu estava com fome" são explicações comuns dadas por idosos presos por furto.

Cerca de 45% dos que recebem o salário mínimo japonês, ou seja, 498 mil famílias, são constituídas de pessoas idosas. A perspectiva de rendas mais limitadas, o aumento das desigualdades e a explosão do número de aposentados com a chegada da geração baby boom à idade de encerrar a atividade econômica já são vistas como um risco de aumento dos crimes e delitos.

Outro fenômeno em causa é a solidão, às vezes tão intensa que a polícia registrou casos de mulheres idosas que cometem furtos em mercearias na esperança de ser apanhadas. Elas sabem que poderão passar algumas horas falando com alguém. Com freqüência não são processadas. Quando os dois fatores se conjugam, levam a situações extremas. Homens idosos que perderam a esposa e recebem rendas magras, caem no crime para ser presos. Sabem que então receberão três refeições por dia e o pessoal cuidará deles.

Alguns não hesitam em recorrer à reincidência para voltar para trás das grades. Como um homem de 67 anos, sem família nem conhecidos, que furta toda vez que é libertado. "Eu não sei como fazer para obter ajuda do governo. Mas sei roubar. Então eu roubo". Outro de 76 anos, em liberdade condicional, usou todo o dinheiro que tinha ganhado na prisão para consumir saquê. Sem dinheiro, teve de dormir na rua e começou a roubar para se alimentar. Recapturado, voltou à prisão. "Aqui podemos dormir, comer e trabalhar", ele declarou aos autores do estudo.

O Ministério da Justiça pôde observar que de 50 casos de homicídios estudados pelos pesquisadores a maioria visava os cônjuges. Atos desesperados cometidos no paroxismo de um esgotamento acumulado durante anos. Uma mulher de 69 anos que nunca havia tido problemas tentou estrangular o marido, vítima de senilidade há vários anos.

Para Tomomi Fujiwara, autor de "Boso Rojin" [Os velhos coléricos], "antigamente os laços de sangue e comunitários serviam para limitar os desvios de comportamento. Cometer um crime significava suicidar-se socialmente. Com a crescente solidão dos idosos esse não é mais o caso". Por exemplo, "o estigma dos ladrões quase desapareceu".

Além dos problemas sociais, a multiplicação de casos que envolvem essa população cria dificuldades nas prisões. De menos de 10 mil em 2000, o número de detidos com mais de 65 anos hoje se aproxima de 30 mil. A progressão levou o governo a liberar 8,3 bilhões de ienes (€ 67,8 milhões) para construir três centros que poderão receber mil prisioneiros idosos. De modo mais geral, a publicação dos números do ministério constitui um indício da ausência quase total de organismos para cuidar dos idosos. Algumas associações, como a Sanyukai, essencialmente envolvidas na ajuda aos sem-tetos, às vezes ampliam seu campo de ação às pessoas idosas e solitárias.

Há iniciativas, principalmente em Hokkaido, onde pequenas residências com cozinhas, salas de estar e banheiros comuns se esforçam para receber idosos solitários, ao mesmo tempo que estudantes ou assalariados de baixa renda, a fim de recriar um elo comunitário. Mas isso é limitado e insuficiente. Os serviços a domicílio, quando existem, são muito caros, assim como as casas de retiro, quase inacessíveis para os titulares de recursos modestos.

Por enquanto, nada foi decidido para conter o aumento da criminalidade dos idosos. O Ministério da Justiça reconhece: "Chegamos ao ponto em que se tornou necessária uma revisão do conjunto das medidas anticriminalidade". Para combater a reincidência, o Ministério da Saúde, do Trabalho e dos Assuntos Sociais pediu que uma verba seja prevista no orçamento de 2009 para a criação de centros de acolhimento de detidos em final de pena e de saúde frágil. Além disso, "toda a sociedade deve se mobilizar e agir nos campos judiciário, da ajuda social e do emprego", estimou em 9 de novembro em um editorial o jornal conservador "Yomiuri". "Para impedir que os idosos cometam crimes, é vital não os isolar da sociedade".

De 22,1% da população em 2008, a proporção de japoneses com mais de 65 anos deverá passar para 40% em 2050.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Texto do Le Monde no UOL.

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sexta-feira, dezembro 12, 2008

Marilyn



Foto de Marilyn Monroe, de 1949, tirada por André de Diene, na Folha. Segundo a notícia, a fotografia deve ir a leilão na Christie’s.

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Níquel Náusea tem coletânea

RATO NÍQUEL NÁUSEA GANHA COLETÂNEA
O quadrinista Fernando Gonsales lança hoje "Níquel Náusea: em Boca Fechada Não Entra Mosca" (ed. Devir, R$ 26, 48 págs), coletânea com mais de 200 tiras coloridas.
A HQ Níquel Náusea estreou em 1985, na Folha, onde continua sendo publicada. O lançamento acontecerá às 19h30, na Livraria HQMIX (pça. Roosevelt, 142, Centro, tel. 3258-7740; grátis, livre).

Notícia da Folha de São Paulo.


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quarta-feira, dezembro 10, 2008

A Vida segundo Garfield, o gato

A Vida segundo Garfield, o gato

Ou, talvez, segundo Jim Davis, seu criador, mas nem sempre a opinião da personagem é a opinião do criador.

Na verdade, eu gostaria de colar neste espaço a tirinha onde o preguiçoso e obeso gato comedor de lasanha cogita sobre o que é a vida. Como não me lembro em qual livro a vi, vou tentar reproduzir as reflexões do gato laranja, como as lembro.

“E o que é a vida, então?”

“A vida é como um bom banho de banheira quente...”

“É bom enquanto você está dentro, mas quanto mais tempo você fica, mais enrugado você fica.”

Soa bobo? Mas o que você poderia esperar sobre as reflexões de um gato obeso e preguiçoso, e ainda por cima iletrado? No entanto me parece uma arguta observação.

E, curiosamente, eu não consigo evitar de me referir a ela, quando entro em reflexões sobre a vida, ou quando a conversa de botequim começa a subir a alturas excessivamente metafísicas...

Imagem oriunda de Papel Digital.

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quarta-feira, dezembro 03, 2008

Bond...James Bond. Você viu “Quantum of Solace”?

Eu vi, e já faz algum tempo, cerca de um mês para ser mais exato. Claro que o tempo desvanece algo de nossas lembranças, mas ainda dá para lembrar de algo do filme.


E já que não há mais “Guerra Fria”, a franquia precisa atualizar-se e reinventar-se. Se os últimos episódios protagonizados por Pierce Brosnan ainda se alimentavam dos, digamos, restos da tal Guerra Fria, como os restos, ainda mortais, ou mortíferos, da antiga União Soviética (“Golden Eye”), ou dispositivos moderníssimos e potentíssimos da Coréia do Norte (“Die Another Day”, ou Um Outro Dia para Morrer em português), com o novo ator-protagonista, Daniel Craig, o agente secreto de Sua Majestade, começa a lutar com inimigos mais, huummm, terrestres, e ao mesmo tempo mais insidiosos.


Neste filme 007 precisa lidar com uma organização corporativa-criminosas chamada “Quantum”. E aqui temos uma curiosidade. No Brasil o título não foi traduzido, Quantum of Solace em inglês era, Quantum of Solace nos cinemas do Brasil ficou. Quantum tem origem no latim, que pode significar algo como “pequenininho”, uma partícula. É desta palavra que se originou a “quântica”, a física das partículas elementares da matéria. E como já dissemos acima, Quantum é o nome da corporação criminosa contra a qual o agente britânico precisa lutar. Já “solace” é uma palavra inglesa que significa “consolo” ou “conforto”, e que eu nunca havia visto, que eu me lembre, antes de vê-la no título do filme. Assim, relacionando este filme, com o filme anterior da franquia, Casino Royale, onde ele acaba envolvido numa relação complicada com Vesper Lynden, a agente do governo britânico que deveria ajudá-lo no combate a uma lavanderia de dinheiro de terroristas, “Quantum of Solace” também pode ser traduzido como “Pedaço de Conforto”, pois ele pode resolver as questões sentimentais que ficaram pendentes no filme anterior. Por estas múltiplas possibilidades, é que eu acredito que o título tenha acabado sem tradução para o português do Brasil.


Há coisas bastante interessantes no filme. O vai-vem é uma. O filme começa nos Alpes Italianos, com uma particular cena belíssima da cidade de Siena, passa por Áustria, Caribe, para terminar na Bolívia (uma Bolívia filmada no Chile, mas ainda assim bastante autêntica). No Caribe, há supostas cenas de Porto Príncipe, a capital do Haiti. Mas Porto Príncipe me parece excessivamente limpinha e organizada, em vista das imagens que recebemos periodicamente de lá, haja visto o Brasil participar das forças da ONU estacionadas naquele país do Caribe.


Na Bolívia do filme há um general de opereta pronto a se tornar ditador do país, tão logo a Quantum promova uma campanha para desestabilizar o país, que redunde num golpe de estado. Claro que a produção do filme não lembra que a população boliviana vem elegendo presidentes desde 1982 (sete anos antes do Brasil, portanto), ou seja, faz mais de 20 anos que não há golpes de estado, pelo menos não que tenham sido bem sucedidos, naquele país. Além disso, eu duvido que a polícia boliviana tenha patrulheiros rodoviários que falem um inglês fluente, como acontece no filme. Quanto às nossas polícias, digo, nossas do Brasil, da Bolívia, ou da Argentina, não creio que se possa comprar “a polícia”, porque naqueles elementos delas que se entregam à corrupção, o negócio funciona na base do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Se compra um oficial da lei aqui, outro acolá, mas dificilmente o grupo todo.


Por outro lado ainda, o filme mostra algumas outras coisas interessantes. Por exemplo, interesses comuns entre o governo do Reino Unido e alguns membros da organização criminosa. Ou o MI6 com interesses diferentes dos da CIA, o que poderia significar que o Reino Unido poderia trabalhar a favor de si próprio, e contra os Estados Unidos.


Mas enfim, é diversão, não? É ficção. O crítico do Terra Magazine detestou o filme. Eu achei diversão garantida! Saúde! Se eu fosse um apreciador de coquetéis, brindaria com um martíni seco, agitado, não mexido.





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Erramos: Anima Heroes

Alertado por meu principal leitor a respeito de animes, eventos de animes e outros que tais, gostaria de corrigir duas falhas flagrantes sobre a nota deste blog sobre o recente Anima Heroes, em Porto Alegre.

Primeiro, o personagem, mentor de Naruto, se chama Hatake Kakashi. Ou simplesmente Kakashi.

Segundo, foi “selado” dentro do corpo de Naruto o demônio de nove caudas, e não de nove caldas como havia sido posto aqui naqueles típicos erros ortográfico-fonéticos. Pois é, fazemos caldas para sorvete, ou para doces em geral. Mas o demônio de Naruto tem nove caudas, ou rabos...


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segunda-feira, dezembro 01, 2008

Curitibanos contam história da cidade usando as próprias fotos


Exposição mostra imagens de moradores no centro da cidade. Curadora do projeto diz que a idéia estimula conservação do local.

A história do centro de Curitiba (PR) está sendo contada por quem ajudou a construí-la. Estão em exposição, em diversos bairros da capital paranaense, fotos antigas e atuais do acervo pessoal de moradores da cidade, que retratam momentos vividos por eles na região do Paço Municipal.

Duzentas fotos estão expostas em mobiliários junto com os depoimentos dos habitantes de Curitiba e podem ser conferidas até o dia 20 de dezembro. A iniciativa faz parte do projeto Arqueologia da Memória: na trilha do Paço, promovido pela prefeitura através da Fundação Cultural de Curitiba.

Segundo Lílian Amaral, curadora do projeto, o objetivo é contar a história do Paço e da região central da cidade através dos próprios cidadãos. “A intenção é fazer com que a população veja a si mesma representada ali”, explica Lílian. “É motivo de orgulho para o morador poder contar a história da cidade a partir da sua”.

As fotos estão localizadas nos locais em que os episódios registrados pelas fotos aconteceram, conferindo sentido simbólico aos espaços. “São as micro-histórias que formam a macro-história da cidade, por isso, é importante resgatar e divulgar o modo como cada um participa na construção coletiva da memória de sua cidade”.O que se pretende mostrar, segundo ela, é que “a história da cidade é formada todos os dias, nos acontecimentos do cotidiano das pessoas”.

Patrimônio

Ver a própria história se misturar com a da cidade, na opinião de Lílian, colabora também para que a população aprenda a preservar os espaços públicos. “Ninguém conserva algo com que não tenha uma vinculação afetiva. Quando nos reconhecemos no espaço público, passamos a conserva-lo”.

O projeto acompanha os trabalhos de restauração do Paço Municipal de Curitiba, o que justifica a preocupação em incentivar a conservação do local. “Queremos que as pessoas se apropriem disso e se sintam parte do espaço”, afirma Lílian.

Além dos mobiliários, duas maquetes que retratam o mapa da região central estão expostas na Galeria Julio Moreira, no Largo da Ordem. São dois mapas que fazem referência ao passado e ao presente de Curitiba, ressaltando as transformações que a cidade sofreu. Em ambos estão dispostas as fotografias recolhidas com a população.

A notícia é do G1.

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