terça-feira, dezembro 29, 2009

Coreia do Norte confirma detenção de americano por entrada ilegal

Cecilia Heesook Paek
Em Seul

Os Estados Unidos enfrentam um novo conflito com a Coreia do Norte, depois que Pyongyang confirmou hoje que deteve um ativista americano dos direitos humanos por atravessar ilegalmente sua fronteira com a China.

É o terceiro cidadão de nacionalidade americana detido pela Coreia do Norte sob essa acusação este ano.

A agência oficial norte-coreana "KCNA" informou hoje que um americano foi detido em 24 de dezembro após entrar ilegalmente na Coreia do Norte através da fronteira com a China, e que está sendo investigado pelas autoridades competentes.

Desta forma, a Coreia do Norte confirmou a detenção de Robert Park, de 28 anos, um missionário e defensor dos direitos humanos de origem coreana, uma informação que já havia sido adiantada na semana passada pela imprensa sul-coreana, que afirmam que a detenção foi no dia 25.

"Sou cidadão americano. Trouxe o amor de Deus. Deus os ama e os abençoa", teria dito o missionário após atravessar a fronteira de forma voluntária, segundo o jornal sul-coreano "JoongAng Ilbo".

O objetivo do missionário era entregar uma carta ao líder norte-coreano, Kim Jong-il, e pedir o fechamento dos campos de trabalho norte-coreanos.

Robert Park é membro de um dos grupos cristãos que condenaram a situação de direitos humanos na Coreia do Norte e tinha dito em Seul que, caso fosse detido na Coreia do Norte, não queria que o Governo americano o libertasse.

Em março, duas jornalistas americanas de origem asiática foram detidas na fronteira norte-coreana com a China enquanto gravavam imagens para um documentário sobre o tráfico de refugiadas norte-coreanas, e posteriormente foram condenadas a 12 anos de trabalhos forçados.

Por fim, a Coreia do Norte as libertou em agosto, graças à mediação do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que viajou a Pyongyang para levar as repórteres para casa.

Em Seul, especula-se que Park poderia ser libertado através de um procedimento semelhante, porque a Coreia do Norte anunciou que ele está sob a mesma acusação de entrada ilegal em seu território.

Mas, ao contrário das jornalistas, que cruzaram a fronteira acidentalmente, o ativista entrou na Coreia do Norte por vontade própria e com uma clara mensagem de denunciar a situação de direitos humanos no regime comunista.

A situação dos direitos humanos é um assunto muito delicado para a Coreia do Norte, por isso não se descarta que a reação de Pyongyang seja mais severa, mas outros analistas sul-coreanos acham que o missionário poderia ser expulso rapidamente, para não causar uma imagem ruim diante da comunidade internacional.

As violações dos direitos humanos na Coreia do Norte foram condenadas em muitas ocasiões por vários países e pelos ativistas, que denunciam torturas, trabalhos forçados e execuções extrajudiciais no país.

Acredita-se que, na Coreia do Norte, há mais de 150 mil prisioneiros políticos em seis campos de trabalho, cuja existência o regime nega.

Este incidente ocorre no momento em que a Coreia do Norte e os EUA tentam retomar as negociações multilaterais para o desarmamento nuclear norte-coreano, com a participação também da China, Japão, Rússia e Coreia do Sul, depois da visita a Pyongyang, no início de dezembro, do enviado especial dos EUA Stephen Bosworth.

Essas negociações estão paralisadas há um ano por decisão do regime norte-coreano, que este ano disparou vários mísseis e realizou seu segundo teste nuclear subterrâneo, em meio aos protestos da comunidade internacional.

Em janeiro, está prevista a viagem a Seul do enviado especial dos Estados Unidos para os direitos humanos na Coreia do Norte, Robert King.

King mostrou sua vontade de viajar à Coreia do Norte para conhecer a situação "in locu", mas o previsível é que sua visita não seja autorizada.


Notícia da EFE, no UOL.

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quinta-feira, dezembro 24, 2009

Feliz Natal e Ótimo 2010



Como é tradicional por estas épocas do ano, este blogueiro deseja a todos os seus visitantes um Feliz Natal e um ótimo e próspero Novo Ano em 2010.

Talvez voltemos antes de 2010...

Presépio da ImageShack.

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Natal do Amor (em 2009)



Recebi esta imagem via correio eletrônico.

E não dá para esquecer que se Natal é encontro, paz, graça, humildade, luz, júbilo, verdade, amor, tudo isso é a respeito do surgimento de Jesus.


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Ashura



Muçulmanos xiitas participam de cerimônia de autoflagelação em Cabul, capital afegã. Fiéis batem nos próprios torsos com correntes, enquanto caminham pelas ruas lotadas de peregrinos. O evento, conhecido como Ashura, lembra o fim trágico de Hussein, neto do profeta Maomé e filho de Ali, morto no ano 680 pelas tropas do califa Omeyyade durante uma batalha no deserto de Kerbala.

A foto é de Omar Sobhani, para a Reuters. Visto no UOL.

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Mais um versículo bíblico de Natal em 2009

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;

Isaias 9:6

Um versículo bíblico de Natal escrito mais de 600 anos antes de Jesus nascer, ora pois!

Um amigo me lembrou este verso, através de uma mensagem eletrônica...

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quarta-feira, dezembro 23, 2009

José Simão vê o Natal em 2009

E sabe o que um Papai Noel de shopping pediu pro Papai Noel? Um emprego fixo. Rarará!”

Na coluna dele (José Simão), na Folha de São Paulo. Detalhe importante nas colunas do José Simão é este “Rarará”, a onomatopeia da risada :) .

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Feriado de 16 de dezembro na África do Sul

Em uma África do Sul dividida, feriado da conquista branca persiste

Barry Bearak
Em Pretoria (África do Sul)

O dia 16 de dezembro era celebrado por feriados rivais na África do Sul, dois fluxos opostos de memória colidindo em uma intersecção. Os africânderes, descendentes dos colonos brancos, celebravam o Dia da Promessa, um pacto que teria sido feito entre seus ancestrais e Deus em 1838, que levou à matança de 3.000 zulus. Os negros comemoravam o mesmo dia marcando o início da luta armada contra o regime do apartheid pelo Congresso Nacional Africano em 1961.

Com a chegada da democracia multirracial em 1994, os legisladores consideraram sábio manter o dia 16 de dezembro como feriado, proclamando-o Dia da Reconciliação, momento para todas as raças se unirem no espírito da unidade nacional.

Contudo, 15 anos depois, esse final feliz está muito distante e o ideal de uma nação de todas as cores agora parece pouco mais do que uma frase bem articulada. De acordo com uma pesquisa divulgada na semana passada pelo respeitado Instituto de Justiça e Reconciliação, 31% dos sul-africanos acham que as relações de raça não melhoraram desde o fim do apartheid e 16% de fato acham que pioraram (cerca de 50% dizem que melhoraram).

Quanto ao feriado, a maior parte dos africânderes teve dificuldade em colocar de lado uma de suas ocasiões mais sagradas e, na quarta-feira, milhares deles se reuniram, como fazem todos os anos, dentro da câmara de mármore de um enorme monumento de granito perto de Pretoria. A estrutura é um templo em homenagem à Grande Marcha, quando os pioneiros brancos migraram para o Norte com suas carroças e mosquetes, completando uma conquista que viam como a realização de uma missão divina.

"O Dia da Reconciliação pode ser uma boa ideia, mas o Dia da Promessa ainda é o que está em nossos corações. Este é um feriado religioso baseado na história de nosso povo", disse Johan de Beer, 46, professor, esperando a abertura do portão do monumento cedo pela manhã.

Em seu discurso de posse, Nelson Mandela falou de um pacto próprio, no anseio de "uma nação das cores do arco-íris, em paz consigo mesma e com o mundo". Quem assistiu ao novo filme americano "Invictus" talvez seja tentado a concluir que tal harmonia racial prevaleceu após uma briga em um jogo de futebol americano.

Os recentes resultados de pesquisa provavelmente chocariam uma pessoa que tivesse dormido durante o apartheid e acordado no presente. Afinal, os negros não apenas controlam o governo, mas também frequentam os melhores restaurantes e shoppings. Os heróis da luta pela libertação, os chamados diamantes negros, foram recebidos nos conselhos das maiores corporações do país.

Contudo, enquanto a África do Sul é o mais rico país do continente, a desigualdade de renda continua sendo das piores do mundo. Cerca de 29% dos negros estão desempregados, comparados com 5% dos brancos, de acordo com números recentes. Quando as estatísticas incluem os trabalhadores desestimulados -que deixaram a força de trabalho- o desemprego sobe para quase 50%. A maior parte dos desempregados nunca teve um único emprego, de acordo com um estudo de um conselho de economistas internacionais.

Os recentes resultados de pesquisa também mostraram que quase um em cada quatro sul-africanos nunca fala com pessoas de outras raças em um dia normal. "Nos grupos de maior renda, há muita integração, mas muito pouca entre os pobres", disse Fanie Du Toit, diretor executivo do instituto que divulgou a pesquisa. "De 40 a 50% dos negros moram em favelas ou no campo e nunca entram em contato com brancos".

No Monumento Voortrekker, entre os que celebram do Dia da Promessa, não se vê negros além dos homens uniformizados recolhendo lixo. "Não sei nada sobre o feriado deles", disse um dos garis, Elias Selema.

Os visitantes que chegaram cedo se sentaram abaixo do domo do monumento, na nave principal, uma enorme sala cercada por frisos de mármore italiano que retratam a migração épica. Outros ficaram em um nível abaixo, cercando o cenotáfio, túmulo vazio que é o local de descanso simbólico dos que morreram durante a marcha. Outros se sentaram nos gramados e jardins em volta.

"Este é meu dia de Ação de Graças", disse Callie van Merwe, 89, vestida com o hábito largo e o boné de algodão branco dos colonos. Ela acrescentou: "Hoje é um dia feliz, mas me sinto mal em relação ao futuro. Este país está mudando, mudando muito."

Há diversas versões do Dia da Promessa e da Batalha do Rio de Sangue que se seguiu. O registro histórico é tendencioso, e não há dúvidas que, com o tempo, desenvolveram-se mitos. Um historiador, Leonard Thompson, disse que a mitologia pode servir ao propósito político de justificar a opressão racial do apartheid como vontade de Deus.

Na versão mais comum da história, a brigada de 468 voortrekkers, ou pioneiros, e cerca de 60 de seus escravos partiram para vingar centenas de mortes nas mãos dos zulus. Seu líder, Andries Pretorius, espertamente selecionou um local para acampar que era protegido por uma ravina profunda e o rio Ncome, que se alargava naquele ponto em uma piscina profunda de hipopótamo.

Antes do ataque zulu que certamente viria, os pioneiros se reuniram para ler um pacto. Em parte, dizia: "Se ele nos proteger e nos der nossos inimigos em nossas mãos, vamos manter este dia e esta data todo ano como dia de ação de graças, como um sabá, e vamos erguer uma igreja em sua honra."

Os africânderes acorrentaram suas carroças cobertas, colocando arbustos espinhosos em baixo. Os zulus atacaram em ondas, tentando usar suas lanças curtas em combate próximo, mas morrendo em pilhas quando a fumaça subia dos mosquetes e canhões. Segundo a história, 3.000 zulus morreram e os brancos sofreram apenas três ferimentos. Tantos guerreiros morreram no Ncome que ficou conhecido como rio de sangue.

"Acreditamos que era a vontade de Deus que os cristãos liderassem esta terra", disse Lukas de Kock, um dos líderes da adoração de quarta-feira. "Naquele dia, no Dia da Promessa, Deus fez uma declaração clara que esta era sua vontade para a África do Sul."

A leitura da promessa é hoje um dos momentos mais solenes da missa. O outro vem precisamente ao meio dia, quando as famílias se debruçam sobre os parapeitos para olhar o cenotáfio.

Os projetistas fizeram cálculos cuidadosos de forma que exatamente ao meio dia de cada 16 de dezembro o sol brilhasse por uma pequena fresta no domo, iluminando a tumba vazia 42 metros abaixo, novamente assinalando para muitos que era a vontade de Deus que a terra fosse sua.

Tradução: Deborah Weinberg

Texto do The New York Times, reproduzido no UOL.

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Um Texto Bíblico de Natal em 2009

Um Texto Bíblico de Natal em 2009

1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.
8 Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.
9 Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.
10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
13 Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.


Evangelho de João, capítulo 1, versos 1 a 14.

Comentário do blogueiro: pode não parecer um texto bíblico de Natal, mas este é o mais perfeito texto biblico de Natal na Bíblia.

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segunda-feira, dezembro 21, 2009

Salas dos Passos Perdidos, ou Contardo Calligaris escreve uma crônica para o Natal

Salas dos passos perdidos

NATAL É uma das épocas do ano em que mais viajamos.
Isso é especialmente verdadeiro no hemisfério Sul. Ao Norte do equador, as pessoas tentam reunir suas famílias, que foram dispersas pelo tempo, pelos casamentos, pelas perspectivas de trabalho ou, simplesmente, por cada indivíduo ter anseios de independência e vontade de tocar a vida por conta própria. Ao Sul do equador, a essa vontade de reunião de família, acrescenta-se a proximidade das férias de verão: junte Natal com o Ano Novo, use 15 dias de férias, e lá vamos nós.
Por essa razão, no Natal, as rodoviárias e os aeroportos são sempre abarrotados, pelos viajantes e por seus restos voluntários (lixo) e involuntários (malas extraviadas e crianças perdidas). A quem viaja, aconselha-se levar consigo o necessário para encarar, sem demasiado tédio, filas e esperas intermináveis. É um paradoxo: "Chegue antes porque, de fato, o voo partirá só bem depois do horário previsto".
Seja como for, muitos de nós passarão um bom tempo naqueles espaços intermediários que são os saguões, as salas de espera, as salas de embarque, em suma, os cenários (menos fugazes do que gostaríamos) de nosso trânsito.
Uma bonita expressão francesa designa esses espaços como "salles des pas perdus", com ou sem hífen, que significa "salas dos passos perdidos". Não sei se existe uma etimologia definitiva dessa expressão, mas parece que, originalmente, salas dos passos perdidos são os átrios dos tribunais de Justiça, onde as partes, depois de ter exposto seus argumentos, esperam a decisão da corte em intermináveis idas e voltas de passos "perdidos", ou seja, movidos só pela ansiedade e pela incerteza quanto ao futuro.
Hoje, a expressão se refere também às salas de espera e aos vestíbulos centrais dos aeroportos e das estações ferroviárias, em suma, a aqueles lugares onde fazemos a hora batendo pernas, lugares que, simplesmente, não são nem nossa origem nem nosso destino, mas sempre apenas transições.
Já assisti a noticiários televisivos de 25 de dezembro em que a notícia eram os "infelizes" que, entre atrasos, tempestades e "overbooking", passaram a noite do dia 24 no saguão de uma aeroporto. Logo no Natal; é o cúmulo, não é?
Nem tanto. Pense bem, o Natal cristão celebra um nascimento, o de Jesus, que acontece num estábulo, que, para quem viajava a dorso de mula ou de jumento, 2.000 anos atrás, era o equivalente de uma rodoviária ou de um aeroporto.
O Natal anuncia que a vida é uma viagem, não só porque estaríamos em trânsito para outro lugar onde seremos recompensados ou punidos para sempre, mas porque somos todos, como o recém-nascido da festa, viajantes: ninguém vale pela sua ascendência, pelo lugar onde nasceu ou pela tradição a qual ele pertence, mas cada um vale pelo que ele conseguirá fazer com sua vida.
Leitura natalina: no começo do romance de W. G. Sebald, "Austerlitz" (Companhia das Letras), o narrador encontra o professor Austerlitz na sala dos passos perdidos da estação de Antuérpia. Detalhe: se o professor Austerlitz tem um interesse muito especial pelas estações de trem, seus átrios e suas salas de espera, é porque o mundo é uma gigantesca sala dos passos perdidos, em que estamos todos, sempre, em trânsito ou talvez (numa veia mais kafkiana) caminhando em círculos, angustiados, na espera de algum oficial público que nos diga, enfim, qual foi a decisão da corte.
Música natalina: "Salle des Pas Perdus", de 2001, é o primeiro CD de Coralie Clément (uma jovem cantora francesa, que canta com uma voz ofegante, estilo anos 1960-70). Na letra da música que dá o título ao CD, uma jovem escreve a um moço, propondo-lhe um encontro num café, depois de ter cruzado com ele no vestíbulo do prédio (em que ambos moram, talvez) e no átrio da estação St. Lazare. "Você sente meu perfume a cada noite, no vestíbulo do prédio", mas, mesmo assim, a gente poderia nunca se encontrar.
Precisamos aprender a viver e a encontrar os outros nas salas dos passos perdidos. Precisamos inventar a arte de viver em trânsito.
E me ocorre que a maior (única?) artista da vida em trânsito é Sophie Calle. Sua maravilhosa exposição, "Cuide de Você", deixou São Paulo e está agora no Museu de Arte Moderna do Rio, até fevereiro 2010.
Mas estou divagando (é o que a gente faz nas salas dos passos perdidos); só queria dizer isto a quem viaja no Natal: console-se, Natal é também uma festa para transeuntes.

Texto de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo, de 17 de dezembro de 2009.


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domingo, dezembro 20, 2009

32° Floor / 32° Andar


32° Floor / 32° Andar
Upload feito originalmente por Tiago de Caux
Belo Horizonte.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Lombardi

Lombardi


“Pô! Mas o Lombardi marcou minha infância!” Estas foram palavras de meu filho, quando surgiu a notícia do falecimento do auxiliar de trabalho do apresentador Sílvio Santos.


“Não só da tua, meu filho!” É. Eu poderia ter dito isso.


Desde minhas mais tenras lembranças da infância, vendo televisão, me lembro de minha mãe assistindo o programa do Sílvio Santos, e aquela voz de bastidores no apoio.


“É com você, Lombardi!” dizia Sílvio Santos. “É isso aí, Sílvio...”, e continuava esclarecendo algum ponto da fala do apresentador, ou tecendo loas à algum produto do grupo Sílvio Santos. No início, na maior parte das vezes, o produto louvado era o carnê no Baú.


Depois Sílvio Santos se tornou dono de sua própria rede de TV. E em lugar de “É isso aí, Sílvio...”, veio o “Pois não, patrão!”, e aos poucos parece que a Tele-sena passou a ter mais abrangência que o carnê do Baú, como produto a ser referendado.


E por mais de trinta anos, para mim, e para boa parte do Brasil, aquela voz de bastidores ficou inextricavelmente ligada a Sílvio Santos. No princípio, uma voz sem rosto. Apenas uma voz.


Nos últimos dez ou quinze anos começaram a aparecer algumas fotos daquele locutor, do qual só se conhecia a voz. Hoje uma pesquisa no Google mostra algumas imagens identificando o apoiador do Sílvio Santos desde sempre (claro que uma pesquisa no Google do Brasil trará também referências ao ator Rodrigo Lombardi, à atriz Bruna Lombardi, e ao autor de novelas Carlos Lombardi. Se a pesquisa for na versão original do Google [a dos Estados Unidos] aparecerá um certo Vince Lombardi, técnico daquele futebol deles, jogado com as mãos. Tudo isso resultante de migrantes italianos, afinal não podemos esquecer que há uma região na Itália chamada Lombardia, onde os “bárbaros” lombardos se estabeleceram no século VI).


Lombardi faleceu no último dia 2, de enfarte.


Mais uma memória afetiva que se vai.



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quinta-feira, dezembro 17, 2009

Identidade Pesadelo

Identidade pesadelo

ALAN PAULS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem chega aos Estados Unidos com um contrato de trabalho temporário -um cargo de professor visitante em uma universidade, por exemplo- não desembarca exatamente nos Estados Unidos. Desembarca num lugar parecido, mas provisório.
Uma espécie de pré-país limpo e funcional onde o recém-chegado -ainda com as sequelas taquicárdicas que lhe deixou o funcionário da imigração ao examinar o formulário DS-2019 de seu visto durante 15 minutos, com o cenho franzido de um papirólogo ou um decifrador de mensagens codificadas- passará muito tempo fazendo filas, preenchendo formulários, assinando pedidos, esperando autorizações e carimbos. Sem estes, nos próximos quatro meses de sua vida -já bastante parecida com um pesadelo- não terá nem sequer direito a ter uma vida.
Otimistas e realistas podem discordar quanto ao prazo, mas não quanto à natureza dessa quarentena que teria feito Kafka tremer nas bases.
É um calvário. Não apenas porque o recém-chegado não faz, não pode fazer, outra coisa senão gastar sua escassa energia de sul-americano inabalável nessa sequência de trâmites mas porque o horizonte excitante, a vida bela, plena e nova que lhe haviam prometido -aulas cercadas de cedros e carvalhos centenários, bibliotecas opulentas, o sonho do scanner e da fotocopiadora próprios, credenciais capazes de franquear todos os acessos, almoços com prêmios Nobel que esquecem os macarrões da sopa na barba, graciosas estudantes sul-asiáticas atravessando o campus de bicicleta, como flechas- ficam suspensos, como que congelados em uma espera ameaçadora.
O recém-chegado os vê, os cheira, pode descrevê-los em detalhes. Mas não pode vivê-los. Ainda não.

Mais valioso que o DNA
A vedete do calvário é o "social security number", mais conhecido -nesse mundo de meninos-espiões onde tudo se chama W-9, VIF2, V9UGRD ou I-94- como SSN. Tudo o que o recém-chegado faz nas três semanas mais soviéticas de sua vida é sortear comprovantes, reunir requisitos e satisfazer condições para chegar são, salvo e apto ao SSN, uma pegada digital que todo mundo aqui considera mais decisiva que o DNA.
Ou seja, por 21 dias o recém-chegado vive para responder a uma só necessidade, a necessidade norte-americana de excelência, a única capaz de manter em pé um aparato burocrático que deixaria exasperado o cidadão cubano mais tolerante: a necessidade de identificar-se.
Nos Estados Unidos, qualquer pessoa pode comprar um kit para falsificar documentos e um manual para trocar de identidade, operar seu rosto ou forjar-se um passado novo, mas ninguém pode pagar em dinheiro vivo o depósito adiantado de segurança de um apartamento alugado ou, muito menos, os U$S 9,50 que custa um almoço médio -o cardápio de hoje foi cafta egípcia com cuscuz- no refeitório de professores da universidade.
É estranho, mas em um país cuja moeda é um verdadeiro objeto de fé e traz impresso o lema "In God We Trust" (em Deus confiamos), o "cash" é o tabu número um. (Existe outro tabu também, mas é mais vulgar: viver em concubinato heterossexual, uma condição que não se sabe se é impudica ou anacrônica, que os formulários administrativos ou fiscais, tão tolerantes com o casamento padrão ou as uniões gays, estigmatizam com a insultante expressão "domestic partner").

Obscenidade policial
Escandalosa como um "snuff movie", mais perturbadora que um pacote abandonado em um canto de aeroporto, a obscenidade do dinheiro em espécie não é moral, mas policial. As cédulas despertam suspeitas, pois não servem para identificar, porque não revelam nada sobre quem as usa, e, ao não dizer nada, dizem sempre o pior, aquilo que só pode ameaçar -narconegócios, máfia russa, pedofilia de aluguel-, pela simples razão de que não constam em nenhum dos arquivos onde os números das economias do plástico, em contrapartida, reluzem e delatam.

O grande dia
Algum dia, contudo, essas três semanas de limbo e hibernação jurídica chegam ao fim, o banco diz que sim, o cartão da biblioteca começa a funcionar, instalam o telefone e o wi-fi, o visto é ativado e chega à caixa de correio o cartão com o SSN.
É esverdeado, de um desenho pomposo e antiquado, muito parecido com uma cédula de dinheiro, e recomendam que você não o entregue a ninguém e nunca o carregue consigo. Exausto, humilhado e feliz, o recém-chegado sente que "entrou no sistema". E a vida é como o trânsito (outro orgulho local): uma circulação fácil, disciplinada, previsível.
Só que essa liquidez -tão agradável e tão norte-americana- é proporcional ao grau de submissão com que motoristas obedecem à Lei suprema que rege a rua: manter-se em sua faixa. Tudo é amabilidade e bons modos, até que alguém muda de ideia sobre a marcha, se arrepende ou se deixa seduzir por um desvio melhor.
Em segundos, então, a cortesia degenera em um insulto, uma enxurrada de buzinas, uma tentativa de linchamento. Quando não em acidentes.

Calma interrompida
Sem ir mais longe, a bucólica comunidade de Princeton me fez deparar com alguns quantos. As vítimas (quatro: duas loiras, duas morenas) foram todos esquilos. Difícil saber de quem foi a culpa, se dos motoristas (enfurecidos porque alguém acionou o pisca à esquerda, mas preferiu dobrar à direita) ou dos roedores (menos assustadiços e mais domésticos). Algo pude intuir quando ouvi um etólogo de renome anunciar em um elevador que os esquilos estão destinados a ser a "espécie dominante do futuro".
Por quê? "Porque hesitam. Em outras palavras, porque pensam", disse o acadêmico. E eu traduzi: "Porque não acreditam na identidade".


ALAN PAULS é escritor argentino, autor de "O Passado" (Cosac Naify); atualmente é professor visitante da Universidade Princeton, onde dá aulas de literatura latino-americana

Tradução de CLARA ALLAIN

Texto originário da Folha de São Paulo, de 15 de dezembro de 2009.


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quarta-feira, dezembro 16, 2009

Fernando Gonsales, 13/11/2009

Retratos capitais: Lombardi




Da revista CartaCapital, edição de 9 de dezembro de 2009.

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terça-feira, dezembro 15, 2009

Lombardi, vítima do mito

Lombardi foi prisioneiro do mito

TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Certa vez alguns executivos do SBT tiveram uma ideia engraçada: propor à revista "Caras" uma matéria com o Lombardi, mostrando em detalhes a casa e a família do locutor mais famoso do Brasil.
Só uma coisa ficaria de fora: o rosto do locutor. Boa-praça como sempre, Lombardi topou na hora. Mas o projeto não foi adiante, porque esbarrou no veto de Silvio Santos. O apresentador fazia questão absoluta de manter a aura de mistério em torno do dono da voz que se confundia com a própria identidade de sua emissora.
Nos últimos anos essa proibição foi se abrandando. Apesar de jamais aparecer no vídeo, a cara de Lombardi não era mais tabu. Bastava uma "googlada" ou uma fuçada no YouTube e lá estava ele: um senhor de aparência comum, quase sempre de óculos escuros.
O locutor chegou a dar uma entrevista para um repórter da megarrival Globo na concentração da escola de samba Tradição, que em 2001 desfilou com um enredo em homenagem a Silvio Santos. Mesmo assim, o segredo continuava -ainda que em tom de brincadeira, com direito a comunidades no Orkut do tipo "Quem é o Lombardi?".

Quase uma estrela
Ele era realmente único. Voz e nome conhecidíssimos do Oiapoque ao Chuí, imitadíssimo por profissionais e amadores, a escada perfeita para a exuberância de Sílvio. Desde a era de ouro do rádio, nunca ninguém ficou tão célebre sem ter um rosto conhecido pelo público. Qualquer canal de TV tem seus locutores oficiais, que dão voz a chamadas e aberturas de programas. Mas são todos sempre anônimos, e nenhum pode se considerar uma estrela.
Lombardi era quase uma estrela. Instantaneamente reconhecível como um símbolo do SBT, ele não recebia da emissora um tratamento à altura. Seu salário era uma fração do que recebem os grandes nomes da casa. O homem virou vítima do personagem: seu campo de trabalho era limitado, porque estava por demais associado a um canal de TV. Pela mesma razão, não recebia propostas para mudar de emprego. Foi ficando, ficando, ganhando pouco e sem maiores perspectivas, prisioneiro de um mito construído ao longo de 35 anos.
Dificilmente haverá outro Lombardi. Seu estilo empostado está fora de moda, e os próprios programas de auditório parecem caminhar para a extinção. Mas vai deixar saudade, porque faz parte da memória afetiva de várias gerações de brasileiros. Afinal, quantos locutores podem se gabar de estarem sempre associados a momentos de alegria?


Texto publicado na Folha de São Paulo, de 6 de dezembro de 2009.

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2012

2012


Você viu o filme O Dia Depois de Amanhã (“The Day After Tomorrow”, 2004), do mesmo diretor Roland Emmerich? Era muito melhor.


Eu tive opiniões positivas e negativas sobre o filme. Uma, positiva, veio de uma pessoa que mostrou certo entusiasmo pelo filme, e acrescentou que era “efeitos especiais o tempo inteiro”. Outra pessoa não foi tão assertiva, e disse que o filme misturava efeitos especiais impressionantes junto com “um pastelão”.


Bom, pastelão para mim sempre foi ligado a comédias, mas eu acho que a pessoa quis dizer que a história do protagonista do filme, Jackson Curtis, vivido pelo ator John Cusack, e que guia o espectador através da filme-catástrofe é tão inverossímil que parece uma comédia. De fato a fuga através de São Francisco, e depois a fuga em Yellowstone, são coisas que de fato se pode chamar de pastelão.


Mas infelizmente o filme em alguns momentos vai mais para o melodrama que para a comédia.


E o problema é que os efeitos visuais impressionantes não são capazes de segurar o filme. E curiosamente eles sempre se apresentam de maneira que a, digamos, fúria da natureza faça o maior número de vítimas possível.


Sem contar que a catástrofe demonstrada é difícil de convencer. Terremotos afundando a Califórnia no Pacífico, tsunamis inundando o Himalaia, e tudo isso em um ou dois dias?


Bom, sempre dá para dizer que o filme é uma ficção, e não tem compromisso necessário com a realidade, mas vamos e venhamos...


Seria bom se no pacote do inevitável DVD viesse alguma explicação plausível para as demonstrações do filme. Melhor ainda, um documentário sobre as possibilidades de um aquecimento do núcleo da Terra fazer com que a crosta se desloque, e faça com que o que hoje conhecemos como Wisconsin venha a ficar no pólo sul.


Exagero pouco é bobagem!...


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terça-feira, dezembro 08, 2009

Distrito 9

Distrito 9

Já faz algum tempo que assisti o filme Distrito 9, ficção científica sul-africana um pouco diferente, vamos dizer assim.


E por ser diferente, já ouvi manifestações curiosas. A primeira foi de meu filho que me acompanhou ao cinema naquele final de semana. Ele ficou indignado com o tratamento indigno dispensado aos extra-terrestres que resolveram aparecer em Joanesburgo.


Outra foi no blog do Hermenauta. E, no caso, me chamou a atenção que ele tivesse prestado atenção que as armas dos extra-terrestres só podiam ser acionadas por código genético de usuários extra-terrestres, mas essa seria uma limitação que a tecnologia humana, sul-africana inclusive, teria condições de contornar.


Em mim, o efeito foi diferente. Eu vi o filme como uma paródia, ou uma sátira. Lembro nesse caso de um autor que eu deveria ter lido, mas não li (mais um): Jonathan Swift. Aquele das viagens de Gulliver, e que sugeriu a venda e o cozimento das crianças irlandesas pobres para aplacar a pobreza de seus pais e saciar a fome dos ricos da Irlanda do século XVII.


Li em algum outro lugar que nesse filme os extra-terrestres não assumem o papel que normalmente se espera de extra-terrestres na longa filmografia de ficção científica. Na filmografia geral, ouos extra-terrestres são seres sábios que vêm tentar ensinar a humanidade a viver de forma mais digna (pense em E.T. - O Extra-Terrestre, de Spielberg), ou são agressores vindos para eliminar a humanidade e se apossar dos recursos do planeta (como em Independence Day, de Roland Emmerich). No caso de Distrito 9 nenhum destes papéis cabe aos extra-terrestres chegados à África do Sul. São simplesmente um grupo de extra-terrestres indo de seu planeta para algum outro lugar no universo, e que acabam aportando por aqui, com sua nave avariada. Intrigados, depois de alguns dias de expectativa, os terráqueos, sul-africanos resolvem invadir a nave espacial. Encontram um grupo de extra-terrestres em lamentáveis condições sanitárias e com fome. Estes extra-terrestres são recebidos como refugiados, e colocados neste Distrito 9, uma espécie de gueto, na periferia de Joanesburgo.


Agora, a presença dos ET's está incomodando seus vizinhos humanos, e o governo sul-africano decide que eles deverão ser deslocados para o Distrito 10 a mais de 200 km da cidade. Uma corporação militar privada (“private militar corporation”, o que muitas pessoas, este blogueiro inclusive, costumam chamar de empresa de mercenários moderna), chamada Multinational United – MNU, é encarregada da transferência, e um de seus funcionários Wikus van de Merwe deverá liderar a tarefa. E em torno disso se dará a narrativa do filme.


Contudo um incidente acontecerá com Wikus, que o transformará, e o levará de encarregado da transferência dos ET's a ser, ele mesmo, perseguido pela companhia da qual era funcionário.


E eis porque eu vejo o filme como uma grande sátira: O filme começa com uma série de depoimentos de cientistas e jornalistas sobre o aparecimento da nave espacial sobre os céus de Joanesburgo. Como se se tratasse de um documentário. Brincadeira do diretor com os espectadores.


Logo no início do filme, o narrador comenta que os sul-africanos ficam surpresos que o tal disco voador tenha aparecido sobre Joanesburgo, e não sobre Los Angeles, ou Chicago. E isso me soou como uma piada.


Os ET's são retratados como refugiados. E o distrito 9 se tornou uma imensa favela, formada a partir do que era originalmente um campo de refugiados. Mais ou menos como os campos de refugiados que se formam em diversas partes do mundo, a partir de gente fugindo de guerras, o que é mais comum, ou fugindo de catástrofes climáticas. Campos de refugiados iraquianos se formaram na Síria e na Jordânia após a invasão ao Iraque liderada pelos Estados Unidos, em 2003. Campos de refugiados sudaneses se formaram no Chade, por conta da guerra civil no Sudão na região de Darfur. Recentemente o Brasil recebeu palestinos que estavam há duas gerações acampados no Iraque, refugiados da guerra de criação do Estado de Israel. O filme Diamante de Sangue, de Edward Zwick (2006) mostra o protagonista, Solomon Vandy querendo retirar sua família de um campo de refugiados, para onde fugiu da guerra civil de Serra Leoa.

Enfim, acho que deu para pegar a idéia. Me parece que o diretor critica os campos de refugiados que existem ao redor do mundo, e a forma como seres humanos são amontoados neles. Nas reportagens da TV, campos de refugiados são sempre uma tragédia humana, ao mesmo tempo em que parecem um estorvo para os países que os recebem.


A empresa de mercenários que deve organizar o deslocamento se chama Multinational United, sigla MNU. Esta sigla fica muito parecida com a sigla ONU, a conhecida Organização das Nações Unidas. Em inglês, o nome é UN, ou “United Nations”, mas em francês é ONU - “Organisation des Nations Unies”, e em espanhol é ONU - “Organización de las Naciones Unidas”. E a pintura dos veículos da Multinational United é igual a dos veículos da ONU, branca com letras azuis. E estes veículos são veículos militares pintados com as cores da ONU para missões de paz. Me parece que o diretor fez uma confusão deliberada aqui para criticar o papel da ONU na manutenção dos campos de refugiados ao redor do mundo.


Por fim, antes do incidente que mudará sua vida, é notável a insensibilidade de Wikus e seus assistentes no trato com os extra-terrestres. Os termos pejorativos, como “camarões”, para se referir aos ET's, as piadinhas, o desprezo, … Fiquei me perguntando se isso seria uma crítica à maneira como os brancos, em especial os africâneres, descendentes de holandeses, tratavam os negros durante o regime do Apartheid (1948-1994) na África do Sul.


Tecnicamente os efeitos especiais parecem um pouco toscos para quem está acostumado com o padrão Hollywoodiano de produções cinematográficas. Há algumas seqüências mal feitas. Mas é um filme interessante.


Uma paródia.


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Descendentes de canibais pedem perdão a família de missionário devorado

Descendentes de canibais pedem perdão a família de missionário devorado

Os herdeiros de um homem que foi devorado por canibais em uma pequena ilha do Pacífico há 170 anos voltaram pela primeira vez ao local da morte de seu ancestral para fazer parte de uma singular cerimônia de reconciliação.

O ritual se deu na pequena ilha de Erromango, uma das ilhas que compõem a nação de Vanuatu, onde em 1839 os indígenas mataram e devoraram o reverendo John Williams, um dos mais reconhecidos missionário de seu tempo, e seu colega James Harris.

Desde então os nativos crêem ser vítimas de uma "maldição", que querem desfazer agora que o catolicismo é cada vez mais forte na ilha.

"O povo de Erromango sempre teve sobre si o peso de ter matado um missionário. Eles acham que foram amaldiçoados e é por isso que essa reconciliação é tão importante", disse à BBC o presidente de Vanuatu, Iolo Johnson Abbil.

"Desde que passamos a nos considerar como um país cristão, era necessário que Erromango passasse por isso."

Canibalismo

Em 1816, aos 20 anos de idade, John Williams abraçou a vida de missionário dedicando-se à catequização de indígenas da Polinésia sob os auspícios da Sociedade Missionária de Londres.

Dedicou-se à atividade por mais de duas décadas. Em sua última viagem, ele aportou em 1839 a bordo do navio Camden na baía de Dillons, no arquipélago a mais de 1,5 mil quilômetros a leste da Austrália que ainda viria a se tornar Vanuatu.

Ali, dias antes, nativos de Erromango haviam sido mortos por comerciantes europeus de sândalo. Em meio à hostilidade, os dois foram mortos e canibalizados pelos nativos, assim que puseram os pés em terra.

"Harris, que estava mais adiante, foi abatido a clavas e morto. John Williams se virou e tentou correr para o mar. Eles o alcançaram na costa. Ele também foi abatido, flechado e morreu nas águas rasas", contou um dos descendentes do missionário, Charles Milner-Williams, 65.

O antropólogo Ralph Regenvanu, membro do Parlamento de Vanuatu e um dos que propuseram a reconciliação, disse que os homens provavelmente foram mortos porque representavam a "incursão" do homem branco na terra indígena.

"O canibalismo era praticado de forma de ritual e considerada uma atividade sagrada. Muitas vezes era uma maneira de derrotar uma ameaça, de absorver o poder do inimigo", disse o antropólogo.

"John Williams pode ter sido morto e devorado porque representava essa ameaça, essa incursão da civilização europeia que estava chegando a Erromango naquela época."

Reconciliação

Na cerimônia de reconciliação, à qual compareceram 18 descendentes do missionário Williams, a morte dos dois homens foi reencenada. Dezenas de descendentes dos moradores de Erromango à época fizeram fila para pedir o perdão da família.

"O canibalismo era muitas vezes uma maneira de derrotar uma ameaça, de absorver o poder do inimigo. John Williams pode ter sido morte e devorado porque representava essa ameaça, essa incursão da civilização européia que estava chegando a Erromango naquela época."

Ralph Regenvanu, antropólogo

Como demonstração de afeto e respeito, a baía de Dillons, onde ocorreu o incidente, foi renomeada de baía de Williams.

"A reconciliação é parte da nossa cultura. Pedir perdão é uma parte do cerimonial, mas não a única”, disse Regenvanu. “A reconciliação requer algo de ambos os lados, há sempre o elemento da troca."

A família de Williams concordou em amparar a educação de uma garota de sete anos de idade, que foi ritualmente "entregue" à família como compensação pela perda do missionário.

Para o parente de Williams, Charles, o ritual foi emocionante.

“Vim sem saber o que esperar e saio, curiosamente, com minha fé restaurada e me sentindo renovado", afirmou Milner-Williams, que vive em Hampshire, no sul da Inglaterra.

"Pensei que após 170 anos eu não sentiria nenhuma emoção, mas a pureza dos sentimentos, o arrependimento genuíno e a tristeza, de partir o coração, foram bastante tocantes."


Notícia da BBC Brasil.

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segunda-feira, dezembro 07, 2009

Macanudo - Liniers

Machado, Euclides, Nabuco

Três gigantes

RIO DE JANEIRO - Não é nada, não é nada, é quase um tudo. Tivemos no ano passado o centenário de Machado de Assis, que foi comemorado "ad nauseam". Mesmo assim muita coisa ficou sem ser dita a respeito de um homem que foi e continua sendo um caso no panorama cultural brasileiro.
Neste ano, temos Euclides da Cunha, outro caso que dá o que pensar sobre a importância de personalidades dentro e acima de qualquer história. Embrião de Guimarães Rosa e Glauber Rocha, marcado pela tragédia e pelo quixotismo, que o fez quebrar a espada de oficial numa cerimônia militar, Euclides está sendo pensado e repensado como um dos pais fundadores de nossa civilização.
Finalmente, temos Joaquim Nabuco, cujo centenário, no ano que vem, já está sendo planejado pela Academia Brasileira de Letras, que, por sinal, lhe deve muito de sua fundação. Curiosamente, os três gigantes de nossa paisagem cultural estiveram juntos na mesma academia. Foram além de simples escritores, interessados na forma e no encanto das palavras. Pensaram grande sobre a condição humana, sobre o homem brasileiro, sobre a nação da qual permanecem como intérpretes principais.
Machado, Euclides e Nabuco são momentos da história do Brasil, cada qual em seu setor, mas juntos pelo amor ao ofício do pensamento e das letras. Neste particular, Euclides foi o mais exagerado, subordinando muitas vezes o pensamento à perfeição da forma. Ao publicar a segunda edição de "Os Sertões", ele apertou ao máximo o limite de sua linguagem. Não mexeu no conteúdo, mexeu apenas na forma.
Hoje, como é natural em tempos de dúvida e de incertezas, quando cada acadêmico da ABL reavalia a sua presença naquela instituição, se absolve em foro íntimo por estar na casa que foi de Machado, Euclides e Nabuco.

Texto de Carlos Heitor Cony, de 18 de agosto de 2009.


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quinta-feira, dezembro 03, 2009

Peças históricas confirmam povoamento antes da fundação de São Vicente

Peças históricas confirmam povoamento antes da fundação de São Vicente

Prefeitura e arqueólogos encontraram objetos que datam de 1516.
Primeira vila do Brasil foi fundada na cidade em 1532.

Juliana Cardilli Do G1, em São Paulo


A Prefeitura de São Vicente, no Litoral Sul de São Paulo, descobriu por meio de escavações no Centro da cidade construções e objetos arqueológicos datados entre 1516 e 1520, comprovando o povoamento do local antes da fundação oficial da primeira vila do país, em 1532. Os trabalhos começaram em setembro, e foram finalizados no fim de novembro. De acordo com a prefeitura, o sítio será aberto para a visitação do público, dentro da Casa Martim Afonso de Sousa, entre janeiro e fevereiro de 2010.

As escavações foram feitas no entorno de uma parede histórica que já estava parte à mostra no local. A base desta parede estava coberta, e a prefeitura fez um convênio com o Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas para fazer uma limpeza no local e encontrar a base.

“Já sabíamos que a parede era antiga, mas achamos ainda mais coisas. Encontramos um sambaqui, ocupação que data de 3 mil anos atrás, cerâmicas da cultura tupi acima deles e acima destas cerâmicas havia louças, objetos de ferro, vidro e bronze, utilitários usados no processo colonial”, explicou o arqueólogo Manoel Gonzalez, que participou dos trabalhos.

A base da parede e os objetos do período colonial foram datados como sendo de antes da fundação da cidade. O que não é uma novidade para os historiadores. “A história de que havia construções nesse local antes da chegada de Martim Afonso [um dos fundadores da vila] é muito antiga. Aparece em um texto de 1530 de Alonso de Santa Cruz, falando de dez a 12 casas de portugueses e uma construção para se proteger dos ataques dos índios”, explicou o historiador Marcos Braga, da Secretaria de Cultura de São Vicente.

A descoberta, entretanto, comprova pela primeira vez com material concreto essa informação. De acordo com o arqueólogo Gonzáles, a datação dos objetos históricos foi feita por meio de termoluminescência, técnica mais recente que usa raios luminosos para determinar a data do material.

No total, foram retiradas do sítio 883 peças arqueológicas, que serão expostas na Casa Martim Afonso de Sousa. Outros materiais foram deixados como parte do contexto do sítio, que será aberto para a visitação do público no início do próximo ano.

“A gente já sabia que a parte da parede que estava evidenciada não era de uma simples casa, mas de uma edificação maior. Agora, temos a confirmação do que já havia nos textos históricos, a confirmação da importância do local”, afirmou Braga. “Ainda devemos achar mais material no local. Esse é apenas o início do processo.”

Notícia do G1.

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